sexta-feira, 18 de abril de 2008

“O maior Pecado do jornalismo em moçambique é ser Mau”

A frase é de Paul fauvet, jornalista da “AIM”, confrontando os putos do Veloso do jornal “ZAMBEZE”. Causa comichão porque é contraditória, uma vez que a l’enfant terrible do jornalismo moçambicano dispara o impensável: “Faz-se bom jornalismo em moçambique”, se bem que “normalmente o que se faz no nosso país é sempre um bocadinho pior do que se faz noutros sítios”.

Não sou especialista na matéria, mas quer-me parecer que há uma pequena diferença entre “ser mau” e “ser um bocadinho pior”. E essa minúscula divergência pode ser determinante para (des)encorajar os futuros aspirantes a jornalistas, que depois de uma revelação destas ficam naturalmente a remoer sobre o mundo que caiu aos seus pés.

O jornalismo em Moçambique não precisa de palmadinhas nas costas, é certo; mas das duas uma: ou se diz logo que não presta mas explica-se porque é que não presta; ou então deixamos o jornalismo quietinho no seu canto, à espera que ele paulatinamente deixe de ser um bocadinho pior daquilo que se faz noutros sítios - abrindo espaço para a mente poder reflectir sobre estas ideias.

Não faltam razões para o jornalismo Moçambicano poder ser mau: a sua população alvo consiste em cerca de 20 milhões de habitantes, dos quais apenas uma pequena amostra lê com frequência, participa activamente no processo democrático, interessa-se pela causa pública, tem confiança nos seus dirigentes políticos, acredita nas instituições e defende que o Estado Social está a fazer um bom trabalho. A isto juntamos um jornalismo que vive dos anunciantes e que anda de mãos dadas com a política dominante e temos aqui a nossa fórmula de excelência.

Mas também se pode dizer que é precisamente por estas características que temos o jornalismo que temos, e aí deixa de haver mau jornalismo para passar a haver jornalismo um bocadinho pior quando comparado com os outros. Não se pode mudar os aspectos culturais de um país de um momento para o outro e se somos o reflexo daquilo que lemos, da forma como participamos no espaço público, do empenho que colocamos nas causas globais e da confiança que temos sobre os órgãos políticos; então também o jornalismo espelha tudo aquilo que nos caracteriza: deixa de ser bom ou mau, para passar a ser a imagem daquilo que somos.

O bom jornalista será então aquele que consegue fazer mais com menos, mantendo os valores da profissão intactos; num país onde os jornais se vendem cada vez menos, onde se dá a proliferação dos gratuitos (Estatais e de Maior circulação) e onde cada vez se torna mais difícil estabelecer esse compromisso de credibilidade com os leitores.

A promiscuidade não é um caso exclusivo de Moçambique, não podia estar mais de acordo. Assiste-se à uniformização da informação e ao “tráfico de influências” entre jornalistas e profissionais de outras áreas como garantia de exclusividade a partir das fontes; mas num fenómeno que está longe de ser um exclusivo nacional.

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