terça-feira, 20 de maio de 2008

“Medicocridade”

Temos sido confrontados, ultimamente com alguma frequência, com casos de assédio sexual envolvendo médicos, enfermeiros e seus pacientes nas principais unidades sanitárias da Capital. Médicos que se valem da privacidade dos consultórios para cometer abusos sexuais contra pacientes, mecânicos que viram ginecologistas e tantos outros casos que nem sequer são reportados pelos órgãos de comunicação, mas que acontecem no nosso dia à dia nos nossos hospitais e apoquentam muitos cidadãos. Autentica “médicocridade”

E uma das questões que favorece este tipo de situações é certamente o facto da mulher ser um dos grupos mais vulneráveis da Sociedade, não somente por causa dos aspectos biológicos que lhe são inerentes, mas basicamente pela consequência da desinformação, da falta de acesso aos programas de saúde reprodutiva, da carente educação em saúde e, sobretudo, da desigualdade de género, por um lado. A maior parte da população feminina com idade reprodutiva nunca tive o contacto com um Ginecologista e também há mulheres que se assustam nas primeiras consultas de Ginecologia, porque não foram preparadas para enfrentar todo aquele ritual médico do ginecologista.



E por outro lado, pelo facto de alguns profissionais da Saúde, neste caso o Médico ou Enfermeiro abusarem de certa forma do seu estatuto que lhes é conferido cientificamente e da confiança que a paciente deposita neles. Deste modo, o paciente se predispõe a realizar todo o ritual médico para que a cura se efectue. Tudo o que Médico disser é o que é certo para a sua terapia. Temos um exemplo claro de um Técnico de Saúde que sob pretexto de curar malária introduziu seus dedos nas partes erógenas das suas pacientes para satisfazer suas fantasias sexuais. Pura ingenuidade das pacientes diante da leviandade do Profissional de Saúde



É de salientar, que estes casos podem vir a conferir um certo descrédito aos hospitais públicos e também à muitos bons médicos que desempenham a sua actividade com zelo e respeito, porque os doentes já não sabem se numa consulta de Pneumologia serão tratados por um chapeiro ou se numa consulta de cardiologia estará lá um latoeiro, carpinteiro qualquer a se insinuar de médico, ou se um tarado sexual estará lá disponível a violar a integridade sexual da paciente. A confiança médico – paciente tende a dissipar-se.

Urge que as instituições de tutela realizem um trabalho sério por forma à recuperar a confiança médico – paciente, principalmente nas consultas de ginecologia. O falecimento da confiança pode inibir todo tipo de esforço conducente a uma terapia do paciente. Dado que a crença que o paciente deposita no seu Médico pode constituir um tónico para a sua cura.

E também, acresce-se o facto de que o Médico constitui o protector da vida humana, aquele que deve agir dentro de princípios éticos que circundam a sua actividade e neste contexto exige-se dele respeito pela vida, devendo sempre no acto do seu desempenho actuar com prudência, evitando que seu Paciente seja levado ao sofrimento ou à baixas irremediáveis como aconteceu no caso do mecânico pseudo - médico, que abandonou uma das suas pacientes nos corredores de um hospital, vindo esta à perecer.

A inflação dos danos causados ao tecido social pelos erros de conduta do Médico resultantes da deficiência de conhecimentos técnicos da profissão ou de desvios sexuais, chegam à ser em alguns casos irreparáveis.

Nesse sentido, é urgente que as instituições de tutela encontrem mecanismos para refrear esta tendência da “medicocridade” (medicina medíocre) através do controle da actividade do pessoal de Saúde nos hospitais, de uma avaliação do perfil psicológico do estudante que vai abraçar a carreira Médica e de uma politica séria que permita ao cidadão o acesso aos programas de saúde sexual e reprodutiva. De salientar que em alguns países adopta-se uma resolução recomendando que em todos os locais onde se exerçam actos médicos principalmente os da Ginecologia, a presença de um Acompanhante Médico com formação técnica e ética seja obrigatória, desde que este seja solicitado pelo doente. Deste modo, evita-se as desconfianças dos doentes em relação aos médicos e também os falsos assédios sexuais reportados por alguns doentes de má fé.

Ai vai a minha saudação fraternal e fervorosa à todos profissionais de Saúde que se esforçam no seu quotidiano, dentro de dificuldades de variada índole, para ajudar-nos à superar as infinitas enfermidades que nos apoquentam no nosso dia à dia. 1 grandioso Khanimambo!

dr. Kanda

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