RESULTADO de uma recolha de crónicas publicadas pelo jornalista e escritor Leite de Vasconcelos nos anos de 1987/88 e 89 neste matutino, foi lançado fim-de-semana em Maputo, a título póstumo, o livro “Contrapontos”. Sob o selo da Promédia, a obra foi escrita numa época particularmente importante na História de Moçambique, dadas as transformações profundas na vida política e económica do país.
A obra, apresentada pelo também jornalista Machado da Graça, contou com a presença de familiares, amigos do malogrado e público amante de boas palavras। O acto singelo teve lugar na Associação Kulungwana, espaço cultural no recinto da estação central dos Caminhos de Ferro de Moçambique, na baixa da capital do país.
A obra, apresentada pelo também jornalista Machado da Graça, contou com a presença de familiares, amigos do malogrado e público amante de boas palavras। O acto singelo teve lugar na Associação Kulungwana, espaço cultural no recinto da estação central dos Caminhos de Ferro de Moçambique, na baixa da capital do país.
Na ocasião, Machado da Graça, por sinal colega e amigo do malogrado, destacou no seu texto de apresentação o tempo difícil em que o autor de “Contraponto” produziu।
“Com preocupação e com rigor, com sarcasmo e com humor, por vezes com não disfarçada raiva, Vasconcelos foi pintando uma sociedade em rápida mutação que ia passando da sociedade do socialismo para o salve-sequem-puder do capitalismo sem controle। Uma sociedade em que começavam a surgir as grandes fortunas, as enormes fortunas, sem ninguém conseguir explicar com clareza de onde elas vinham”.
Adiante, o texto prossegue, “Frases como ‘O Primeiro nos Sacrifícios e o último nos Benefícios’ tinham ficado enterradas no descampado de Mbuzini, misturadas com o sangue de Samora e os seus companheiros de viagem। Reinava agora o egoísmo mais cru, a ganância mais despudorada, a impunidade completa”.
Espectador privilegiado de tudo isso, com uma cultura geral muito acima da média e uma formação política e ideológica há muito consolidada, Leite de Vasconcelos, foi destapando misérias e denunciando oportunismo com coragem e rigor।
Para Machado da Graça, “estes anos de 87, 88 e 89, ao longo dos quais a coluna ‘Contraponto’ foi sendo publicada no ‘Notícias’, vão mostrar-nos um Vasconcelos cada vez mais desencantado com os rumos que o país prossegue”।
Anos mais tarde, entre 1995 e 1996, Leite de Vasconcelos publicou também, mas no “Mediafax”, uma outra série de crónicas, sob o titulo “Pela Boca Morre o Peixe”, que também foi editado em livro।
O jornalista, que faleceu em 1997, descreve essas transformações, que ocorriam num período em que o país era dilacerado pela guerra de desestabilização movida contra o Governo pela Renamo, então patrocinada pelo regime sul-africano do “apartheid”।
Um Contraponto do que foi aquela época de transição entre a fase revolucionária que se seguiu à independência e o país que é hoje Moçambique।
O leitor que tiver acesso ao livro poderá deliciar-se com crónicas com títulos como, “A cadeia do conhecimento”, “Comércio e Citações”, “História de Barbearia”, “A descoberta”, “Não Vamos Esquecer”, “O excesso e o Riso”, “Aos Homens de Boa Vontade”, “A Tentação do Eufemismo”, “Um concurso de História”, “História de Cirurgia”, “Quem Serve Quem?”, “O Equívoco da Retórica”, “No Reino do Vale-Tudo”, “A Defesa da Instituição”, “Boato Mata Três”, “A Recepção”, “O Equivoco”।
Há ainda outras propostas como “A Carreira do Absurdo”, “Críticos Literários”, “A Bomba Atómica dos Pobres”, “Sindromas”, “Oferta de Natal”, “O Carapau”, “Memória do Presente”, “Laconismos”, “O Direito ao Bom Nome”, “Gente Como Toda a Gente”, “A Estranha Ausência Que Ninguém Estranhou”, “Agência Doméstica de Informação”, “As Esferas do Saber”।
O lançamento do livro de Leite de Vasconcelos faz parte da programação do festival “Ahoje é Ahoje”, que decorre desde semana passada em Maputo.
LEITE DE VASCONCELOS
Teodomiro Alberto Azevedo Leite de Vasconcelos, de seu nome completo, nasceu em 4 de Agosto de 1944, em Arcos de Valdevez, distrito de Viana de Castelo, Portugal e veio para Moçambique com ano de idade, tendo adoptado posteriormente a nacionalidade Moçambique।
Leite de Vasconcelos, como era conhecido, era jornalista, tendo iniciado a sua carreira na Rádio do Aeroclube da Beira e passado depois pela Rádio Clube de Moçambique, em 1969। EM 1972, partiu para Portugal por motivos políticos onde fez vários cursos incluindo Comunicação Social no Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina da Universidade Técnica de Lisboa. Foi redactor do jornal Expresso no Rádio Clube Português e na Rádio Renascença.
Leitor de Vasconcelos, foi quem leu a primeira estrofe do poema “Grãndola Vila Morena” de José Afonso transmitido, de seguida, a canção que serviu como senha para o desencadear da Revolução de 25 de Abril de 1974।
Como escritor, dinamizou várias mesas redondas, escreveu varias roteiros para documentarias e a sua obras, “O lento Gotejar da Luz”, foi adaptada a cinema, com o titulo “O Gotejar da Luz” (2002) de Fernando Vendrell। Escreveu várias peças de teatro, como “As mortes de Lucas Mateus” (2002), as crónicas “Pela Morre o Peixe”(1999) e os livros de poesia “Irmão de Universo” (1994) e “Resumos, Insumos e Dores Emergentes”(1997).
Recebeu vários prémios, destacando-se: os prémios de Melhor Locutor do Ano e de Melhor Programa Radiofónico do ano (19971), pelo seu programa “A Noite e o Ouvinte”; o prémio de Melhor Programa do Ano (1974), com “Limite” da Rádio Nascença, atribuído pela Casa da Imprensa।
Leite de Vasconcelos faleceu a 29 de janeiro de 1997, em Joanesburgo.
Um comentário:
Bom dia!
Peço desculpa mas não se trata própriamente de um comentário mas de um pedido de ajuda!
Gostaria de saber como posso encontrar/comprar os livros do meu querido amigo Leite de Vasconcelos!
Amigos de pouco tempo, conheci-o quando da minha exposição Percursos, na Assoc. Moçambicana de Fotografia, junto com o Jorge Dias e Habulen (de quem também perdi o rasto...) em Maio de 1994, e que reencontrei em Portugal, salvo erro, em 1996, mas que ficou para sempre no meu coração!
Se me puder ajudar, agradeço, desde já!
AFO (Ana Ferreira Oliveira)
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