terça-feira, 10 de junho de 2008

Desinteresse dos jovens pela política

Com três décadas de implantação da democracia no país, importa perceber o porquê do desinteresse acentuado dos jovens pela vida pública.

A meu ver, há três factores principais que estão na base deste acentuar da indiferença e do alheamento perante a política: as políticas neoliberais que acentuam o individualismo; a má imagem da política aliada a má imagem dos partidos; o desemprego e a precariedade no trabalho.

O primeiro factor deriva das mudanças sociais e económicas mais gerais que, nas democracias ocidentais, têm conduzido a um aumento do individualismo, do consumismo e da desfiliação, devido às pressões do mercado, aspectos largamente acentuados pela globalização neoliberal.

A isso soma-se a perda de importância da família na educação, a falência das políticas educativas nos seus diferentes níveis (básico, secundário e superior), sobretudo naquilo em que o sistema de ensino poderia contribuir para a consciência democrática das novas gerações. A história recente da nossa democracia está completamente alheada da actual juventude. A falta de atenção dada pela escola à formação cívica e política dos jovens é uma das razões para a crescente indiferença.

No entanto, o individualismo, a concorrência, o salve-se quem puder, deriva, naturalmente, da força do mercado e dos seus instrumentos, sobretudo as indústrias do marketing, da publicidade e da moda que, com os poderosos meios audiovisuais que têm ao seu dispor, modelam as orientações e subjectividades juvenis.

O segundo factor prende-se com o funcionamento dos partidos políticos e a sua crescente perversão aparelhistica e burocrática. O discurso repetitivo, as promessas não cumpridas, a defesa obsessiva do pequeno poder, as alianças promíscuas, a recusa do debate público aberto, etc, só contribuem para cavar o divórcio entre os jovens e a política.

Essa atitude dos partidos reflecte-se nas instituições públicas (em geral por eles dominadas), na sua falta de transparência (desde logo no plano local) e na forma burocrática como os utentes e cidadãos são tratados. Para além disso, os partidos vêm cultivando o carreirismo e o seguidismo, ao mesmo tempo que esquecem e abandonam (ou pelo menos remetem para segundo plano) o debate ideológico e a discussão política.

Contudo, as estruturas das juventudes partidárias parecem limitar-se a reproduzir, senão mesmo a acentuar, essa mesma lógica tecnoburocrática. O mesmo se passa no associativismo estudantil. O calculismo, a estratégia pessoal ou a ilusão de aceder uma carreira na política, é o que mais importa na actividade do jovem e promissor quadro partidário. Percebendo isto, a massa da população juvenil (nomeadamente nas universidades) não vê nenhum estímulo em participar nas actividades cívicas e associativas.

Finalmente, a questão laboral e da precariedade no emprego é outro motivo para a indiferença da juventude perante a política e o associativismo.

Exemplo disso vive-se nas instituições no país, embora gritem contra a precariedade, não se mostram capazes de atrair os jovens para as suas estruturas. Porquê? Há um discurso, igualmente gasto e repetitivo, o egoismo, centralização do poder e falta de consideração que não consegue desligar-se do velho modelo, da permanente auto-vitimização ou do auto-elogio, julgando-se ainda no centro da transformação histórica (embora já sem vanguarda).

Tudo isto é agravado pelo facto de serem os jovens as maiores vítimas nas instituições públicas, do desemprego, dos recibos verdes, dos contratos a termo, numa palavra, da precariedade e barreiras no trabalho. Os que já trabalham e estão nestas condições, têm poucas possibilidades de intervir, criticar e de desenvolver suas faculdades e habilidades criactivas. À indiferença junta-se também o medo.

Muitas vezes os que estão à procura do primeiro emprego ou a terminar os seus cursos, estão dispostos a tudo, mas a vontade política associada aos interesses individuais, muitas vezes protegidos por partidos políticos e ao nepotismo, Compete aos dirigentes políticos mudar de atitude e mostrar na prática a mudança. Compete às instituições públicas, ao governo e a todos nós investir mais na construção de uma cultura democrática para a juventude do século XXI.

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