A CANTORA sul-africana Miriam Makeba morreu domingo à noite em Itália, vítima de ataque cardíaco, logo depois de terminar um concerto contra a máfia। “Mama África”, como é também conhecida a estrela africana e mundial da música, deu entrada com vida numa clínica de Castel Volturno, perto de Nápoles, mas não resistiu, acabando por falecer.
Makeba ainda terminou a sua actuação no espectáculo, em que participaram vários artistas e que foi dedicado ao jornalista e escritor italiano Roberto Saviano, ameaçado pela Camorra, a máfia napolitana।
Quando caiu desmaiada nos bastidores do palco em que acabava de actuar, os organizadores do espectáculo pediram de imediato socorro junto da assistência। “Ela foi a última a subir ao palco, depois de vários outros cantores. Houve uma chamada ao palco, e nesse momento alguém perguntou através dos microfones se havia um médico na assistência. Miriam Makeba tinha desmaiado”, relatou fonte hospitalar à agência italiana ANSA.
Cerca de mil pessoas assistiram ao concerto em Caltel Volturno, considerado um dos bastiões da máfia napolitana e onde seis imigrantes e um italiano foram abatidos em condições obscuras em Setembro। Roberto Saviano é autor do best-seller “Gomorra”, um livro sobre a Camorra que foi adaptado ao cinema e mereceu o prémio do júri no último festival de Cannes, além de ter sido escolhido para representar a Itália nos Óscares.
Convertida num dos símbolos da luta anti-“apartheid”, Miriam Makeba, nascida em Joanesburgo a 4 de Março de 1932 e cujo título “Pata Pata” a tornou conhecida em todo o mundo, sempre defendeu nas suas canções o amor, a paz e a tolerância।
A cantora, a quem chamavam “a imperadora da canção africana”, deixou a África do Sul em 1959 para um longo exílio em países como a Guiné-Conakry, França e Estados Unidos। Tentou regressar em 1960, por ocasião do funeral de sua mãe, mas o passaporte foi-lhe cancelado e não foi autorizada a entrar no país pelas autoridades do “apartheid”.
Regressou finalmente à sua África do Sul em 1990, quando regressaram muitos exilados sul-africanos ao abrigo de reformas instituídas pelo então presidente F।W. de Klerk. “Nunca percebi por que é que não podia voltar ao meu país”, disse Makeba quando regressou: “Nunca cometi nenhum crime”.
Em 1976 proferiu nas Nações Unidas um discurso de denúncia do “apartheid”, ao que as autoridades racistas sul-africanas responderam com o banimento das suas canções na rádio e televisão governamentais do país।
Durante o seu exílio, principalmente quando esteve em Conakry, “Mama África” veio por várias vezes actuar em Moçambique, tendo, inclusivamente, composto uma canção para homenagear o nosso país e os seus heróis: “A Luta Continua”, do seu álbum “Welela”, editado na década de 1980। No pós-“apartheid” também foi assídua em palcos moçambicanos, tendo actuado pela última vez em 2003.
Sentindo-se “pesada pela idade”, Miriam Makeba anunciou, em 2006, no Festival de Jazz da Cidade do Cabo, que terminaria a sua carreira internacional naquele ano। Também em 2006 actuou na Ilha Reunião, no âmbito de um festival internacional ali organizado anualmente para comemorar o fim da escravatura nos territórios do Oceano Índico.
O legado musical de Miriam Makeba é grande: vários álbuns editados, alguns deles com canções cujo teor e ritmo contagiaram o mundo: “Pata Pata”, a sua mais famosa, “Saduva”, “Soweto Blues”, “Iya Guduza”, “Africa Is Where My Heart Lies”, “Malayisha”, “Malaika”, entre muitas outras।
Foi casada com o trompetista Hugh Masekela e mais tarde com o activista Stokely Carmichael
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